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Arquitetos: Studio Clarice Semerene
- Área: 70 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Joana França
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Fabricantes: Deca, Docol, Electrolux, Franke, Goiarte, Triangulo Madeiras
Descrição enviada pela equipe de projeto. O apartamento de 70m² é localizado na Asa Sul, bairro tranquilo e arborizado em Brasília, onde ficam as mais antigas “Superquadras”- como são chamados os conjunto habitacionais na cidade. Os clientes são um casal aventureiro, ambos brasileiros, que já visitou inúmeros lugares, principalmente países africanos. Também trazem na bagagem muitas memórias de Lisboa, onde moraram por alguns anos, além de lugares inesquecíveis como o Marrocos. Das viagens, sempre trazem objetos com alguma história para contar, como a coleção de máscaras africanas. Além disso, adoram cozinhar e receber amigos e tem como forte referência a arquitetura modernista de Brasília. Os clientes cultivam o desapego e possuem apenas o essencial. Apesar de amarem ler, frequentemente doam os livros, roupas e qualquer coisa que esteja fora de uso. Preferem um apartamento pequeno, mas bem localizado e sob medida para as coisas essenciais do dia a dia.
Os clientes carregavam na bagagem memórias de inúmeras viagens pelo mundo e desejavam que a casa contasse a história deles. Além disso, gostariam de transformar o pequeno apartamento em um espaço amplo e integrado com o verde, focando nos ambientes de convívio e valorizando o que é essencial no cotidiano. Antes, o apartamento tinha 03 quartos e apenas 01 banheiro grande que não atendia as necessidades dos clientes. A cozinha era pequena, pouco prática e apesar de integrada, não favorecia a fluidez. A área de serviço não desagradava os clientes, mas possuía um cobogó que havia sido semi fechado em uma reforma anterior, o que bloqueava a ventilação e iluminação.
Com a reforma, a diretriz for minimizar as paredes para valorizar e integrar as áreas de convívio, aumentar a ventilação cruzada e a iluminação,retirando as barreiras entre as duas fachadas do apartamento vazado. Sendo assim, o terceiro quarto foi eliminado e se tornou a sala de jantar, diretamente voltada para a cozinha e separada da sala de estar apenas por uma curta parede onde se encontra a TV. A cozinha ocupou o lugar onde era a área de serviço e o banheiro. Assim, o cobogó, antes escondido e agora se tornou o protagonista do ambiente.
O segundo quarto agora é reversível, preparado para receber hóspedes com privacidade, mas também pode ser aberto para a sala na maior parte do tempo, através de portas de vidro e ferro. A reforma conta com 2 banheiros, um na suíte do casal e outro logo na entrada do apartamento. A área de serviço foi deslocada para liberar o cobogó mas manteve a mesma metragem e ventilação suficiente para as necessidades do casal.
Na escolha dos materiais foi levado em conta qualidade, durabilidade e manutenção, mas também a sensação que este material transmite. A ideia organicidade e conexão com a natureza pode ser vivenciada com o uso da madeira, cimento e tijolo. O ladrilho hidráulico, por ser artesanal e tradicional, não é apenas um revestimento comum, mas uma escolha com significados afetivos. Por isso, foi usado não só nos pisos das áreas molhadas mas também no tampo da bancada da cozinha para ganhar um novo status. Todas as inspirações foram traduzidas com o uso de tons naturais e neutros, em uma textura mais rústica, como o tijolo branco, o cimento e a madeira; as memórias da infância foram traduzidos na escolha do ladrilho hidráulico, na cor e nas formas da marcenaria da cozinha.
A coleção de viagens e objetos dos clientes ajudaram a configurar aos poucos os traços do projeto. A arquitetura mediterrânea, com seus arcos, a cozinha da avó, cheia de elementos de afeto, além dos objetos trazidos da África, que possuem uma forte conexão com a natureza e as nossas origens. O resultado é uma atmosfera com forte conexão com natureza, que traz memórias de terras distantes e memórias em constante construção.